A Sociedade Está Virando uma Laranja Mecânica? Quando o Controle Substitui a Consciência
A cada dia, percebo que estamos abrindo mão do livre-arbítrio em nome de uma falsa sensação de ordem. A sociedade tem caminhado para um modelo onde a liberdade de pensar, falar e agir está sendo substituída por mecanismos de controle cada vez mais sutis — e perigosos.
A cultura do cancelamento, a vigilância digital, o controle algorítmico de comportamento e até a doutrinação disfarçada de educação nos colocam diante de um dilema que Laranja Mecânica já denunciava décadas atrás: vale mais ter uma sociedade ordeira sem liberdade, ou uma sociedade livre, mesmo que imperfeita?
Vivemos em um momento onde nossa liberdade de expressão está sendo constantemente ameaçada, seja pela censura explícita ou pela manipulação invisível dos conteúdos que consumimos. O que antes era liberdade de escolha, hoje se tornou uma linha tênue entre o que é aceito socialmente e o que é silenciado. A Internet, por exemplo, que deveria ser um espaço para troca de ideias e opiniões diversas, está sendo cada vez mais controlada por algoritmos que definem o que você pode ou não ver, o que você pode ou não falar. O mais assustador é que, assim como no filme, não estamos sendo forçados fisicamente a mudar, mas estamos sendo moldados de uma forma ainda mais insidiosa, sem perceber.
As escolas e universidades, que deveriam ser o berço do pensamento crítico, muitas vezes se tornam campos de doutrinação ideológica, onde quem pensa de forma diferente é rapidamente marginalizado. Isso nos faz questionar: o que estamos perdendo ao sacrificar a liberdade individual pela “harmonia social”? Ao tentar criar uma sociedade sem dissonâncias, estamos nos tornando uma sociedade sem pensamento autêntico, sem questionamentos reais. Seremos todos apenas produtos de um sistema que decide por nós o que é certo, o que é errado, o que é aceitável?
No entanto, é importante deixar claro: os atos de Alex, o protagonista de Laranja Mecânica, não são justificados e não servem como uma defesa de uma liberdade sem limites. A violência, a anarquia e a imposição do desejo pessoal sem respeito pelo outro são inaceitáveis. O filme nos alerta para os perigos de uma sociedade que tenta controlar os indivíduos, mas também nos mostra que a liberdade sem ética e sem responsabilidade leva ao caos. A verdadeira liberdade não é a permissão para agir sem restrições, mas a capacidade de agir dentro dos limites do respeito mútuo e da convivência.
Embora tenhamos a liberdade de escolha, principalmente no campo educacional, devemos entender que a verdadeira liberdade vem acompanhada da responsabilidade. Cada um de nós tem o direito de decidir, mas também deve ser capaz de distinguir o que é certo e o que é errado, e estar ciente de que é responsável pelos seus atos perante a lei. Nenhuma sociedade pode prosperar quando a liberdade é confundida com licenciosidade ou com a ideia de que podemos agir sem consequências.
O filme de Kubrick não nos mostra apenas a repressão de um indivíduo, mas a repressão de um sistema que quer controlar e moldar as pessoas de acordo com sua própria visão. E a dúvida que fica é: será que estamos caminhando para uma Laranja Mecânica da vida real? Cada vez mais nos vemos sendo pressionados a seguir uma narrativa única, a ceder às imposições da sociedade e dos sistemas que nos cercam. E quando a verdadeira liberdade parece um risco, nos tornamos conformistas, prontos para aceitar o controle, porque a ideia de “segurança” nos parece mais atraente do que a ideia de liberdade.
Estamos condicionando pessoas como se fossem máquinas. Mas o que resta de humano quando já não se pode escolher? Quando as nossas opiniões são moldadas por fora, quando nossas ações são premeditadas por algoritmos invisíveis? O que resta de nossa identidade quando a liberdade de pensar é reduzida a um luxo?
A grande questão que fica é: estamos dispostos a lutar pela nossa liberdade, ou vamos aceitar, sem perceber, uma sociedade que nos tira a capacidade de decidir por nós mesmos?
Ideia e pensamento de Arllen Philipe – with the help of a ghostwriter
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